terça-feira, 18 de agosto de 2009

As duas imprensas

A Associação Nacional de Jornais, principal entidade representativa da imprensa brasileira, completa nesta semana 30 anos de existência. Entre os atos que marcam a celebração destaca-se a divulgação de doze casos de censura determinados pela Justiça desde julho do ano passado. O mais evidente deles, claro, é a proibição decretada pelo juiz federal Dácio Vieira ao jornal O Estado de S.Paulo de publicar informações sobre investigação que atinge o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

A maioria dos casos citados no relatório se refere a tentativas de candidatos a cargos eletivos de impedir a divulgação de fatos que consideravam prejudiciais a suas campanhas. Os jornais de terça-feira (18/8) citam o caso do Jornal Pequeno, do Maranhão, que também foi proibido de divulgar a operação policial que envolve Fernando Sarney.

A imprensa brasileira certamente está carregada de razões ao defender a liberdade de informação e denunciar a manipulação de decisões judiciais em favor de candidatos ou para proteger poderosos envolvidos em irregularidades. Trata-se de um direito fundamental do cidadão e um dos esteios do regime democrático. Mas, como tudo que envolve o noticiário tem o chamado "outro lado", o leitor atento deve observar que falta, nas comemorações da ANJ, a necessária referência a eventuais abusos da própria imprensa.

Propriedade cruzada

No caso dos Sarney, que praticamente monopoliza as manchetes dos grandes jornais de circulação nacional há meses, convém lembrar que também eles possuem seus meios de comunicação. E que, com certeza, os jornais e emissoras sob controle dos Sarney praticam um jornalismo que anda na direção oposta à da tendência majoritária da imprensa nacional.

Convém também observar que, em todos os estados onde a imprensa é controlada por políticos, e onde os chamados jornais de circulação nacional não têm penetração relevante, a população fica à mercê dos coronéis da política que, coincidentemente, são também os senhores da mídia.

Ao comemorar três décadas de existência, em que alardeia sua luta por uma imprensa mais livre e mais moderna, a ANJ bem poderia anunciar o que tem feito pelos brasileiros que ainda são reféns da imprensa manipulada por grupos de interesse político e econômico por todo o país.
Poderia, por exemplo, aceitar o debate sobre a propriedade cruzada dos meios de comunicação e sobre a escandalosa concentração de concessões de rádio e televisão em mãos de parlamentares.

Por Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa

Para constatar este fato não precisamos ir muito longe, em Corumbá e em outras cidades do Estado temos exemplos de políticos que ou são donos oficiais ou por baixo do pano de algum jornal ou emissora de rádio. É difícil assim ser imparcial e o leitor acreditar que tudo corre a mil maravilhas e que não temos problemas.

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